PAPA

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Francisco, o Papa que veio do fim do mundo

 

Biografia

O Papa Francisco desloca-se a Fátima quatro anos e três meses depois de os cardeais reunidos em conclave o terem ido buscar «ao fim do mundo», como o próprio referiu na primeira mensagem dirigida aos fiéis, na varanda da Basílica de São Pedro, em Roma, em 13 de março de 2013.

Primeiro jesuíta a sentar-se na cadeira de São Pedro, primeiro Papa latino-americano, primeiro Sumo Pontífice não europeu em mais de 1200 anos, o cardeal Jorge Bergoglio escolheu o nome de Francisco, numa referência a S. Francisco de Assis, inspirado na «simplicidade e dedicação aos pobres».

E desde então tem seguido fielmente esses princípios inspiradores, granjeando uma popularidade nunca antes vista, sobretudo junto dos não-crentes, perplexos com a simplicidade de atitudes e gestos de um Papa que tem privilegiado a ação apostólica e pastoral junto das periferias, dos que mais necessitam de carinho e apoio.

Desde a escolha da Casa de Santa Marta para viver, onde celebra missa diariamente e toma refeições com os restantes residentes, deixando o Palácio Apostólico, às frequentes saídas do Vaticano, algumas delas para gestos tão simples e inesperados como a compra de sapatos ou de óculos, Francisco tem marcado uma mudança de atitudes e comportamentos na Cúria Romana que encontra um eco extremamente positivo nos média, raramente atingido nos tempos modernos pelos seus antecessores.

Um Papa que faz telefonemas pessoalmente, vai pagar a conta da sua estada na Domus Paulus VI, onde esteve alojado para o conclave que o elegeu, e não esconde o seu gosto pelo futebol nem pelo clube de que é adepto (San Lorenzo de Almagro, Argentina).

Com 80 anos de idade, acabados de cumprir, foi eleito sucessor de Bento XVI em 13 de março de 2013, após a renúncia do agora Papa emérito.

8556010826_4833800f15_b.jpgAo aparecer na varanda da Basílica, pediu aos fiéis reunidos na Praça de São Pedro, em Roma, que rezassem por ele, antes de os despedir com um «boa noite e bom descanso»: «E agora quero dar a bênção, mas antes… antes, peço-vos um favor: antes de o Bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que me abençoe a mim; é a oração do povo, pedindo a bênção para o seu Bispo. Façamos em silêncio esta oração vossa por mim».

Já visitou quatro continentes e realizou algumas viagens simbólicas, incluindo deslocações a Lampedusa, em Itália, e à ilha de Lesbos, na Grécia, locais de acolhimento dos refugiados e migrantes que atravessam o Mediterrâneo, e uma passagem pelo campo de concentração de Auschwitz, Polónia, além de outras visitas a países, regiões e paróquias da diocese de Roma.

As Filipinas acolheram, em 18 de janeiro de 2015, a maior celebração do atual pontificado, junto ao estádio Quirino Grandstand, na área do Parque Rizal, com seis milhões de participantes, o que representa um recorde na história da Igreja Católica.

Entre os principais documentos do atual pontificado estão as encíclicas Laudato si’ (Louvado sejas), dedicada a questões ecológicas, e Lumen fidei (A luz da fé), que retoma reflexões de Bento XVI, a exortação apostólica Evangelii gaudium (A alegria do Evangelho) e a exortação pós-sinodal Amoris laetitia (A alegria do Amor).

O Papa argentino promoveu um Sínodo sobre a Família, em duas sessões, com consultas alargadas às comunidades católicas, e anunciou um Ano Santo Extraordinário, o Jubileu da Misericórdia, 50 anos depois do encerramento do Concílio Vaticano II.

Está, por outro lado, a desenvolver uma reforma da Cúria Romana, a começar pelo setor administrativo-financeiro, com auditorias externas às contas do Vaticano e a criação de uma Secretaria para a Economia na Santa Sé, para além da implementação de medidas de transparência financeira no Instituto para as Obras de Religião (IOR, conhecido como Banco do Vaticano).

Além das várias críticas a um sistema económico e financeiro que “mata”, o Papa tem apelado à paz nas várias regiões do mundo afetadas por conflitos, assumindo a defesa dos cristãos no Médio Oriente, perseguidos pelo autoproclamado Estado Islâmico, e criticando quem justifica ataques terroristas com as convicções religiosas.

O Papa já promoveu 3 consistórios e nomeou 57 novos cardeais, incluindo D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa.

Desde o primeiro momento, consagrou o seu pontificado a Nossa Senhora. Conhecido como um Papa profundamente mariano, Francisco tem surpreendido o mundo. Até os média mais críticos o têm elogiado. A revista Rolling Stone elegeu-o como o «Papa cool», e a Time como a personalidade do ano.

«O meu povo é pobre e eu sou um deles», disse várias vezes, para explicar algumas das suas opções, nomeadamente quando era arcebispo de Buenos Aires.

Aos seus sacerdotes recomendou misericórdia, coragem apostólica e portas abertas a todos. A pior coisa que pode acontecer na Igreja, explicou, «é a mundanidade espiritual», que significa «pôr-se a si mesmo no centro».

E quando cita a justiça social convida em primeiro lugar a retomar nas mãos o Catecismo, a redescobrir os dez mandamentos e as bem-aventuranças. O seu programa é simples: «se seguirmos Cristo, compreenderemos que espezinhar a dignidade de uma pessoa é pecado grave».

Nasceu na capital argentina no dia 17 de dezembro de 1936, filho de emigrantes italianos do Piemonte: o seu pai, Mário, trabalhava como contabilista no caminho de ferro; e a sua mãe, Regina Sivori, ocupava-se da casa e da educação dos cinco filhos.

Diplomou-se como técnico químico e depois escolheu o caminho do sacerdócio, entrando no seminário diocesano de Villa Devoto.

Em 11 de março de 1958, entrou no noviciado da Companhia de Jesus. Completou os estudos humanísticos no Chile e, tendo voltado para a Argentina, em 1963, licenciou-se em Filosofia no Colégio de São José, em San Miguel.

De 1964 a 1965, foi professor de Literatura e Psicologia no Colégio da Imaculada de Santa Fé e em 1966 ensinou estas mesmas matérias no Colégio do Salvador, em Buenos Aires. De 1967 a 1970, estudou Teologia, licenciando-se também no Colégio de São José.

Em 13 de dezembro de 1969, foi ordenado sacerdote pelo arcebispo D. Ramón José Castellano. De 1970 a 1971, deu continuidade à sua preparação em Alcalá de Henares, Espanha, e em 22 de abril de 1973 fez a profissão perpétua nos jesuítas.

Regressou à Argentina, onde foi mestre de noviços na Villa Barilari, em San Miguel, professor na Faculdade de Teologia, consultor da província da Companhia de Jesus e também reitor do colégio.

No dia 31 de julho de 1973, foi nomeado provincial dos jesuítas da Argentina, cargo que desempenhou durante seis anos. Depois, retomou o trabalho no campo universitário e, de 1980 a 1986, foi novamente reitor do Colégio de São José e, inclusive, pároco em San Miguel.

No mês de março de 1986 partiu para a Alemanha, onde concluiu a tese de doutoramento; em seguida, os superiores enviaram-no para o Colégio do Salvador, em Buenos Aires, e posteriormente para a Igreja da Companhia de Jesus, na cidade de Córdova, onde foi diretor espiritual e confessor.

Em 28 de fevereiro de 1998 tornou-se arcebispo de Buenos Aires (funções que desempenhou até ser eleito Papa) e cerca de três anos depois, em 21 de fevereiro de 2001, foi elevado ao cardinalato por João Paulo II.

Foi nessa condição que participou nos dois últimos conclaves, o de 2005, que elegeu o cardeal Joseph Ratzinger como Papa, e o de 2013, no qual foi eleito Papa, em 13 de março, na sequência da renúncia de Bento XVI.

 

Papa Francisco e Fátima


Tal como Paulo VI há 50 anos, embora em contextos diferentes, o Papa Francisco desloca-se de 12 a 13 de maio à Cova da Iria, como «peregrino entre peregrinos», desta vez para assinalar os 100 anos das Aparições de Fátima.

Há 50 anos, em ambiente de tensão com as autoridades portuguesas, por causa da sua participação no Congresso Eucarístico de Bombaím, na Índia, em dezembro de 1964, três anos depois da retomada de Goa, Damão e Diu pela União Indiana, Paulo VI manifestara desejo de se deslocar a Fátima para marcar o primeiro cinquentenário das Aparições de Nossa Senhora aos Pastorinhos.

Esta visita acabaria por se realizar, a convite dos bispos portugueses, unicamente à Cova da Iria, como forma de evitar que fosse considerada uma legitimação do regime português, em guerra contra os movimentos pela independência das colónias. 

O Presidente do Conselho, Oliveira Salazar, chegara a pensar proibir a visita, não emitindo os necessários vistos, mas acabou por aceitar a viagem do Pontífice enquanto peregrino de Fátima, segundo relato de Franco Nogueira, ministro dos Negócios Estrangeiros.

Devido a este contexto, o avião que trouxe Paulo VI a Fátima não aterrou em Lisboa, mas a 40 quilómetros de Fátima, na Base Aérea de Monte Real, onde o Papa recebeu os cumprimentos das várias autoridades civis e religiosas (incluindo o Presidente da República, Almirante Américo Tomás, e o Presidente do Conselho, Oliveira Salazar). 


Paulo VI ficou alojado na diocese de Leiria (então assim denominada), deslocando-se depois em carro descoberto, o Rolls-Royce da Presidência da República, até Fátima, por entre milhares de peregrinos.


É numa conjuntura totalmente diferente, mas com motivações idênticas, que Francisco viaja até Fátima para, com os portugueses, rezar junto da Imagem da Virgem Maria, num dos maiores santuários marianos do mundo.

Tal como aconteceu há 50 anos, o avião que transporta o Papa aterrará na Base Aérea de Monte Real e Francisco fará depois o percurso em helicóptero até à Cova da Iria. 

A visita efetua-se a convite dos bispos portugueses e do Presidente da República, mas, como há 50 anos, cinge-se apenas a Fátima, sinal da devoção mariana do Santo Padre.

Eleito Papa a 13 de março de 2013, a ligação de Francisco a Nossa Senhora de Fátima, enquanto Sumo Pontífice, iniciou-se oficialmente dois meses depois, quando os bispos portugueses, a seu pedido, entregam o seu pontificado a Nossa Senhora de Fátima, durante as celebrações do 13 de maio, na Cova da Iria.

Exemplo da sua devoção mariana foi também o pedido expresso de que a Imagem de Nossa Senhora que se venera na Capelinha das Aparições fosse a Roma para o encerramento da Jornada Mariana, promovida pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização no âmbito da celebração do Ano da Fé. 

Em 2015, o Papa Francisco associou-se à celebração do 13 de maio, ao evocar em Roma alguns dos conteúdos centrais das aparições aos três videntes, que tiveram lugar na Cova da Iria entre maio e outubro de 1917. 

Durante a catequese do dia 13 de maio de 2015, o Papa pediu ao leitor português presente na Praça de São Pedro, em Roma, que rezasse em voz alta uma ave-maria, assinalando o dia em que a Igreja recorda Nossa Senhora de Fátima: «Peço ao meu irmão português, neste dia de Nossa Senhora de Fátima, que reze com todos em português».

Francisco manifestou a intenção de estar em Fátima na peregrinação internacional aniversária de maio, vontade que foi transmitida aos bispos portugueses em setembro de 2015, no início da visita ad limina.
A visita ad limina, versão abreviada de ad limina Apostolorum – aos túmulos dos Apóstolos, em Roma –, consiste na obrigação de os bispos diocesanos de um país se deslocarem a Roma, de 5 em 5 anos, para apresentarem um relatório sobre a situação pastoral nas suas dioceses e refletirem com o Papa, ouvindo os seus conselhos e recomendações.

Na audiência geral de 11 de maio de 2016, o Papa Francisco associou-se à celebração do 13 de maio na Cova da Iria e recordou a devoção de João Paulo II por Nossa Senhora de Fátima: «Nesta aparição, Maria convida-nos mais uma vez à oração, à penitência e à conversão», disse o Pontífice, perante milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro. 

A conta oficial do Papa Francisco na rede social Instagram, no mesmo dia, incluiu uma imagem de Nossa Senhora de Fátima com a legenda: «Mãe, nós Te agradecemos pela Tua fé; renovamos a nossa entrega a Ti».

Francisco será o quarto Papa a visitar Portugal, depois de Paulo VI (13 de maio de 1967), João Paulo II (12 a 15 de maio de 1982, 10 a 13 de maio de 1991, 12 e 13 de maio de 2000) e Bento XVI (11 a 14 de maio de 2010). 

 

 

 

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